Mineiros
de Amanda Dias, 2020, Minas Gerais, 23’ (LSE*)
“Quantas toneladas exportamos / De ferro? // Quantas lágrimas disfarçamos / Sem berro?” (C. D. A., ‘83). No mundo representado por Mineiros, nenhum berro. Tudo é deserto e stasis forçada. Paisagens vazias, ruínas, casas abandonadas — lugares atravessados por ruídos silenciosos — cantos de grilos, pios distantes, barulhos de rio, ecos de vento, zumbidos. A montagem reforça a atmosfera fantasmagórica, ao mesmo tempo em que coleciona signos, animais errantes, placas e cartazes, chaminés com fumaça, acrescentando ao que vemos camadas de sentido. Um apito lancinante corta o ar — um alerta do passado que se repete, um alarme do que não cessa de continuar. Os espaços sem corpos, quase sem vida, representam pela chave da ausência famílias expulsas ou dizimadas, moradores que perderam o pertencimento da própria terra (a “pátria” de tantos mineiros). Nesse universo sem humanos, a voz finalmente desponta, com firmeza, para declarar que, no programa da destruição capitalista, a vida das pessoas é administrada como um obstáculo ao progresso, e ao trabalho das mineradoras. (luís flores)
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